Quando me mudei pra São Francisco, o povo sempre dizia "lá é o paraíso da natureza: você pega onda de manhã e vai esquiar de tarde". Eu não surfo nem esquio, então passei esses dois anos foi mesmo é explorando os restaurantes da área e andando pela orla. Bem menos atlético, mas você há de convir, bem mais prazeiroso.
Até que no fim de semana passado, finalmente dei o braço a torcer e fui acampar. Luis e Carolina, casal Colombiano que conhecemos, são fissurados em acampar e esquiar e nos convenceram a acompanhar-los numa mini-trip com uns amigos deles do Peru. O pessoal se conhece, é gente boa e são feras de acampamento. No stress.
Aí começaram os preparativos. Pense numa galera que tem tudo de acampamento e que se amarra em ir na loja de coisa de acampamento. Compra isso, aluga aquilo, GPS, traz o casaco de lã, traz o biquini, traz uma sandália, traz uma luva no caso de nevar. Que porra é essa? Vão ser as quatro estações em 24 horas? Ah, compra um poncho também! De repente chove...
E não esquece o rango de astronauta, daqueles que é só misturar com água, que afinal lá não tem geladeira. QUE PORRA É ESSA?
(Carolina) Se preocupa não, Geysa. Lá tem banheiro.
(Luis) Quer dizer, deve ter uma latrina.
(Eu) Que bom! Não precisa mijar no mato.
(Carolina) Mas traz papel de qualquer forma.
(Eu) Sério?
(Luis) É! Você vai ver, no mato é melhor mesmo.
(Eu) Como assim??
(Carolina) Luis, você tá trazendo a corda, né?
(Eu) Corda?
(Luis) Pra içar a mochila com pasta de dente na árvore.
(Eu) Içar na árvoce?
(Carolina) Se deixar na barraca os ursos atacam.
(Ambos) Não se preocupa não, vai ser ÓTIMO.
(Eu) Bibi, vou trazer uma garrafa de cachaça.
Tudo empacotado, saímos depois do expediente na sexta pra pegar 4hrs de estrada. Visual lindo, passando inclusive por uma fazenda de vento e por cidades do Velho Oeste.
Chegamos no camping já era tardão, e dei graças aos deuses pelos avanços barracológicos que nos permitiram arrumar tudo em 20 minutos só na luz do farol do carro. Barraca montada e saco de dormir extendido, foi só se apresentar aos novos amigos, sentar na mesa de picnic e olhar pras estrelas. Lua minguando nas montanhas, e é mais estrela nesse céu que água no mar. Apaixonei.
Aí vem a natureza pra mostrar quem é que manda. De madrugada a temperatura caiu pra 8 graus e quem tem raça pra levantar 3 da matina pra catar a tal latrina? Digamos assim que a primeira noite não foi exatamente confortável.
Mas como a natureza morde mas depois assopra, o dia seguinte foi daqueles de cinema. Quente mas com uma brisa gostosa, sem uma nuvem no céu. Pegamos o carro pra ir pra Lake Alpine. As fotos vão contar melhor que eu. Visual ímpar. E nada melhor que passar 24 horas sem chuveiro pra achar que tomar banho em lago de degelo é uma boa idéia. Pense na água mais límpida que você já viu, daquelas que dá pra beber. Agora bote gelo dentro. Quando eu molhei as costas acho que meu coração congelou.
A segunda noite foi bem melhor que a primeira: churrasquinho, fondue de queijo, e cerveja ou vinho, dependendo do gosto do freguês. De sobremesa, marshmallows gigantes melados no chocolate derretido no calor da fogueira. Conversa boa e mais estrelas no céu. E pra não passar de otária, fiz xixi e coloquei um casaco extra antes de ir dormir.
No domingo foi tomar café da manhã, desarmar a barraca e voltar pra casa parando em Angels Camp, que tem uma corrida anual de sapos desde os idos de 1860 e que, segundo a mulher que nos serviu uma cerveja e a Internet, teria inspirado uma das obras de Mark Twain. A geladeira do bar parece que é do começo do século. Uma onda.
Pois bem. Carolina e Luis estão de parabéns. Tinha latrina, não precisou içar nada em árvore, não rolou ataque de urso e terminou sendo ÓTIMO mesmo. Tô até pensando em marcar outra mini-trip dessas, porque afinal de contas, a garrafa de cachaça voltou pra casa lacrada.
Adorei a história!!! Vai juntando aí que daqui a pouco dá um livro...
Morri de rir aqui imaginando a cara do japonês no meio disso tudo. kkkkk
Beijos.
Posted by: Falcon | 20/08/2009 at 05:57 AM