Sempre que passa uma reportagem sobre o progresso tecnológico, Bibi pergunta: tá bom, mas cadê os carros voadores?
Eu normalmente rio, mas ultimamente eu tenho pensado que cada dia nós estamos mais próximos do futuro dos filmes de ficção científica. E hoje eu li um artigo que demonstrou exatamente como a Internet tem mudado nossa vida.
Em 1995, Clifford Stoll, astrônomo e autor, escreveu um artigo pra Newsweek explicando como a Internet não era lá essa coisa toda:
Eu sinto desconforto com relação a essa moda de Internet. Visionários vêem um futuro de pessoas que trabalham de casa pelo computador, de bibliotecas interativas e salas de aula multimídia. Eles falam de encontros eletrônicos e comunidades virtuais. Que comércio e negócios irão se mudar dos escritórios e shoppings para redes e modems. Bobagem.
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Toda voz pode ser ouvida de forma barata e instantânea. O resultado? Toda voz é ouvida. Mas quando todo mundo grita, quase ninguém escuta. Que tal publicações eletrônicas? Tente ler um livro em CD. É uma tarefa chata: o brilho da tela do computador quadradão toma o lugar das amigáveis páginas do livro. E você não pode levar seu monitor pra praia. No entanto, Nicholas Negroponte, diretor do MIT Media Lad, prediz que em breve nós estaremos comprando livros e jornais direto da Internet. Até parece.
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Sem editores, redatores ou críticos, a Internet se transformou num lixão de dados. Você não sabe o que deve ser ignorado e o que deve ser lido ... Eu procuro pela batalha de Trafalgar. Centenas de arquivos aparecem e me leva 15 minutos pra filtrar tudo ... Nenhum arquivo responde a minha pergunta, e minha busca é periodicamente interrompida por mensagens tipo "Conexões excedidas, tente novamente".
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Nos dizem que multimídia vai fazer o dever de casa ficar fácil e divertido. Alunos aprenderão lições de personagens animados e programas de software personalizados. Quem precisa de professor quando se tem educação por computador? Que nada. Esses brinquedinhos caros são difíceis de usar em salas de aula e requerem de capacitação profissional.
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E tem os negócios online. Nos prometem liquidações pela Internet, onde é só apontar e clicar para comprar. Que iremos comprar passagens aéreas, fazer reservas de restaurantes, e fechar contratos de negócio pela rede. Lojas se tornarão obsoletas. Então me explica como o shopping vive cheio e vende mais em uma tarde do que a Internet vende em um mês. Mesmo que existisse uma forma segura de mandar dinheiro pela Internet - o que nao existe - a rede não tem o ingrediente mais essencial do capitalismo: vendedores.
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O que falta nesse mundo eletrônico? Contato humano... Computadores e redes nos isolam das outras pessoas. Uma sessão de chat é um substituto fraco comparado com um encontro de amigos num café. Nenhuma demonstração de multimídia jamais chegará no chulé de um show ao vivo.
OK. Filha de professora, eu concordo que livro multimídia jamais substituirá um bom mestre.
Mas minha vida inteira é na Internet. Eu pago as contas, vejo as notícias, acompanho a vida de minha família e os amigos. Vejo meus sobrinhos e filhos de amigo crescerem. Nenhuma demonstração multimídia chega no chulé de um show ao vivo, mas me permite ver a transmissão ao vivo do Carnaval de Salvador. Não tem calor nem cerveja, mas dá pra ver o rebolation e o suor no rosto de Saulo Fernandes.
E hoje eu acordei e ainda de camisola e deitada na cama eu fiz uma tele-conferência com minhas irmãs no Brasil e minha sobrinha na Espanha, enquanto lia as notícias e vídeos do terremoto no Chile.
A Internet só nos isola se a gente deixar.
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