Eu tenho vagas mémorias de uma viagem pro Piauí, quando eu era pequena. A gente tinha ido passar as férias na casa de meu pai, ver os primos e a fazenda. Não me lembro de quase nada, mas tenho essa idéia da viagem de volta, sentada no carro no banco de trás, atráz de meu pai. O vento na cara, que meu pai sempre ia pela BR com o vidro da janela arriado, olhando a vastidão que é o sertão nordestino. Marrom do lado de lá, marrom do lado de cá. Um mandacaru aqui e ali.
Até que meu pai disse: "Tá vendo ali, filha? Tá desfiando chuva." Olhei pra frente pra ver uma nuvem escura, com um fiapo de água que se via de longe, naquela imensidão árida. Mais pra frente as nuvems ficaram mais fechadas e meu pai me perguntou: "Já pensou como deve ser tocar numa nuvem?" e meti a cara entre os bancos da frente pra ver o rosto de meu pai, o retrato misto de nostalgia e fascinação, coisa que só sente quem cresceu com a seca e sabe o valor de cada gota de água.
No feriadão de Labor Day a gente foi pra Tahoe. E do alto da montanha de Squaw, a 9 mil pés de altura, olhei pro horizonte e dei de cara com a chuva desfiando. E quando senti o vento do topo da montanha batendo na cara, em vez de entrar e proteger Tiago do tempo, resolvi sentar na beira do precipício e dar comida pra ele, olhando a chuva cair em fiapos sobre a floresta lá em baixo. Eu não sofri com a seca, mas a saudade de meu pai é grande.
Tiago, quando você crescer e ver um tiquinho de água escorrendo do céu, que você se lembre de sentir o vento na cara e saber que seu avô - e sua mãe - te amam.
Tiago,você tinha de ver as primeiras chuvas,em Pimenteiras! Corríamos nas calçadas, descalços,ensopados, gritando, gargalhando recebendo a água das pingueiras nas cabeças.Todos os adultos saiam pra ver aquele Milagre dos céus!Meu pai ficava lá,sentado no "perverso"- pernas cruzadas,corpo para frente,cigarro na mão,só olhando...feliz!Podíamos tambem ver aquele olhar quando iamos para praia,no maior toró,com chuva gelada se misturando com a agua do mar quentinha!Que saudade!
Posted by: Eda | 27/09/2011 at 08:05 PM
Dinha, eu lembro demais é das chuvas torrenciais do inverno de Salvador, e Zica me ensinar a fazer barcos de papel pra "navegar" nos "rios" da chuva acumulada lá na rua de Amaralina. Tempo bom...
Posted by: Geu | 27/09/2011 at 09:09 PM
Que a gente continue com a capacidade de admirar e de desfrutar a chuva, que lava o corpo e a alma, sempre guardando os bons sentimentos!
Posted by: yse | 30/09/2011 at 04:12 AM