Tiago fez 20 meses hoje. Depois de passar uma semana indo pra creche, ele sobe escada sozinho (ainda precisa de ajuda pra descer), não quer mais ajuda pra comer, tá falando um milhão de palavras no vocabulário dele, tem opiniões sobre a roupa dele e se eu escolher a camisa errada eu me lasco, sabe onde as comidas ficam e não dá mais pra esconder as bolachas. E hoje ele comeu o cupcake dele sozinho, e eu levei bronca por ter tentado ajudar a tirar o papel.
E pra simbolizar o crescimento dele, que daqui a pouco vai contar a idade em anos em vez de meses, rolou essa conversa no jantar:
Ele: Bisou, você acha que Tiago é baiano?
Eu (com os olhos arregalados): OBVIAMENTE. Se ele não for baiano ele é o que?
Ele: San Franciscano.
Eu: Yudi, se você aceita o passaporte brasileiro dele, então você tem que aceitar a baianidade dele.
Ele: Como é que você sabe que ele é baiano?
Eu: POR QUE EU TO DIZENDO QUE É E PRONTO!
Ele: Você não sabe o que é ser baiano.
Eu (a voz uns 300 decibéis mais alta): Yudi. Você acha que seu filho é um item de free shop? Uma coisa que gringo compra pra dizer que foi no Brasil, mas que não tem personalidade? É claro que ele é baiano. Seu filho tem 20 meses e já botou flores pra Yemanjá no mar 2 vezes. 2 vezes em 20 meses.
Ele: Inconscientemente ele foi.
Eu: A primeira vez ele não sabia o que estava acontecendo. A segunda foi ele que colocou a rosa no mar. E ele ainda foi no mar no ano novo.
Ele (não convencido)
Eu: Ele adora Ivete Sangalo. Eu boto o DVD e ele dança.
Ele: Um milhão de pessoas adoram Ivete Sangalo. Não significa que elas são baianas.
Eu: Ele come com pimenta. Ele comeu caruru, vatapá, moqueca, acarajé, abará, pitittinga e gostou de tudo. Pinha é a fruta favorita dele.
Ele: Há controvérsias. Se colocar uma pinha e uns morangos eu não sei não.
Eu: PINHA GANHA. EU APOSTO QUE GANHA. Ele comeu umbu, seriguela, cajá e gostou de tudo. ELE COME COM FARINHA.
Ele: Isso não significa nada. Baiano sabe o que é farinha da boa.
Eu: YUDI! ELE SO COME FARINHA DA BOA. FARINHA RUIM NAO ENTRA EM MINHA CASA.
Ele: Mas você não sabe se ele sabe disso. De repente ele cresce e acha que farofa é uma coisa que vem do pacotinho Yoki do supermercado.
Eu: Me diga você então, você filho de japonês paulista e baiana da capital, como é ser baiano?
Ele: Só mais tarde.
Eu: Como assim?
Ele: Ele tem que saber como é que fala "bora bahêa minha porra" corretamente.
Eu: Isso João vai ensinar a ele. Ele vai começar as frases com "rapaz" e "venha cá".
Ele: Ele tem que falar "ôxe".
Eu: E "vixe".
Ele: "Vixe" é nordestino.
Eu: Bisou, todo baiano é nordestino. Você se lembra das aulas de matemática, não? Conter e estar contido?
Ele: Mas nordestino é diferente. Piauiense deve falar vixe.
Eu: E ele é um pouco piauiense também. Espera só ver o tamanho da testa.
Ele: Baiano de verdade, de verdade mesmo, é assim: no dia que chove, usa moleton.
Eu (me controlando pra não gargalhar): Como?
Ele: Chover é sinônimo de frio. Baiano vai e coloca um moleton.
Eu: Bisou, mas aí a gente vai ter que comprar um moleton pra ele. Eu acho que não vai rolar. Ele é baiano por que ele não vai rolar os erres.
Ele (pensando)
Ele: Sabe como é baiano?
Eu: Diga.
Ele: Ele vai achar que o Hino do Senhor do Bonfim é uma das músicas mais bonitas.
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