A mulher do cotidiano é a melhor personificação do paradoxo entre o tradicional e o moderno no Japão. Da menina com sua farda azul e branca e seus penduricalhos de pelúcia voltando do colégio, à jovem com seu estilo próprio misturando texturas e cores pra enfrentar a cidade, à mulher adulta com seu kimono de seda fazendo compras no domingo, à velha encurvada acendendo incenso pra Budha no templo.
Não importa a escolha do traje, a elegância e a graciosidade são constantes.
O guia mandava a gente ir passar o domingo no bairro de Harajuku, pra presenciar as "meninas Harajuku" fantasiadas de tudo um pouco. Chegamos na estação de metrô e já dava pra notar o movimento. Parecia dia de Carnaval, com gente saindo da estação em hordas.
Começamos descendo a rua Omotesando, com suas lojas chiques e um milhão de transeuntes passeando, olhando as vitrines. Quebrando à esquerda, passamos por umas ruas estreitas, ainda cheias de lojas, mas mais voltadas ao público jovem. Até que culminamos na rua Takeshita, um inferno de adolescentes vestidas de boneca, procurando tudo que for rosa, ou fofo, ou de pelúcia, ou de tutu de bailarina, ou de Alice no País das Maravilhas.
Pra descansar da correria das vitrines, passamos pela ponte Jinku, onde as meninas Harajuku já tinham se recolhido, e fomos andando até o parque Yoyogi. Parada obrigatória pra comprar um takoyaki na barraquinha e seguir até o parque pra achar um lugar pra comer (eu falei que no Japão não se come na rua, né?). O takoyaki é um bolinho frito de polvo, servido com uma série de molhos indecifráveis e farinha de bonito seco. Não é almoço, mas dá pra encher o buraco do dente.
Ficamos no parque descançando e vendo o show de Rockabilly com os Elvis
descamisados e as meninas com saias de babados. Depois passear pelo
jardim de rosas pra ver como é que o japonês passa a tarde de domingo.
Lá pras três e meia deu vontade de almoçar então voltamos pra
Omotesando pra achar um sushi de barquinho, daqueles que você senta no
balcão e o sushi passa numa tigelinha na sua frente. Bibi e seu Minoro
curtiram, enquanto eu ia dizendo "esse eu não posso, esse eu não posso,
que diabo que é isso?, camarão aferventando eu posso, esse eu não
posso"...
A gente tinha ouvido falar que era pra ir visitar o bairro de Shibuya à noite. O cruzamento desse bairro é um dos mais movimentados do mundo todo, e as luzes dos prédios fazem vergonha ao Times Square de New York.
Depois de andar pra lá e pra cá vendo o povo passando, ninguém nem aí com a chuva, todo mundo com a camisa azul da seleção Japonesa, a gente resolveu pegar o metrô de volta pro hotel. Foi aí que eu notei o mosaico na parede da estação de trem, com várias imagens do mesmo cachorro.
Bibi me contou que o cachorro é Hachikō. Conta a lenda que em 1924 um professor da Universidade de Tokyo pegou Hachikō pra criar. Todo dia o cachorro ia deixar o dono na estação de trem, e voltava à tarde pra pegar o dono na mesma estação.
Até que um dia em 1925 o dono não voltou. O professor teve um derrame na universidade e terminou morrendo. Só que ninguém contou a Hachikō, que passou os próximos nove anos indo pra estação todo dia, na hora do trem chegar, pra esperar o dono voltar.
Não precisa a pessoa estar grávida pra se emocinar, não?
Uma das coisas mais hilárias do Japão são as frases escritas em inglês errado. Eu esperava ver inglês usado em coisas pra turistas - tipo sinalização de rua, cardápio - mas o que não falta é produto japonês com uma palavra em inglês na embalagem.
Meus favoritos eram os pacotes de chocolate. Chocolate meio-amargo (que eles chamam de "mild bitter", em vez de "semi-sweet") é anunciado como FOR MAN. Ou então ver cortina de chuveiro sendo vendida com uma velhinha na embalagem dizendo "Good!".
Isso sem falar nos rótulos de refrigerante ou bala, explicando em detalhes a matéria-prima do produto. Tipo a Green Cola, cuja embalagem explicava que o refrigerante é "extraído de plantas, tipo frutas".
Se liga só nessas pérolas:
E o que não tinha inglês tinha um desenho pra explicar. A foto da esquerda é o logotipo do serviço de correio rápido. A foto da esquerda é uma tampa de bueiro. Fofo, não?
Recent Comments